terça-feira, 2 de agosto de 2016

Palavras com sentidos...

Sinto o cheiro da relva e descalço-me.
Pouso o livro e os pés sobre a terra molhada que me espera feliz.

Sorrio por ver-te passar, danças uma dança solitária que me acalma, fluis por entre a desconfiança de ser quem és. 

Começo a ler. Encontro-me nas entrelinhas dos livros todos, há muito que todos os livros sou eu, mesmo quando não percebo o que me dizem.

Distraio-me com as vozes dos outros, aqueles que não sabem respeitar o silêncio dos que estão, sou eu também a passar com companhia, hoje não, hoje estou só comigo, sorrio de novo, reconheço-me também no barulho dos outros.

Saboreio a sensação de não pertença a este lugar, sabe bem andar perdido em lugares que não são nossos. 

Olho-te nos olhos e percebo que choras, pensava que apenas conversavam e que mantinha a distância suficiente para não incomodar a vossa partilha. Preocupo-me com isso, em não interferir. Abraças o teu amigo, não percebo se são um casal que se despede e troca as últimas palavras, ou apenas dois homens crescidos que partilham emoções, sem medo de serem descobertos. Sorrio outra vez.

Volto ao livro. Volto a mim. "O Lobo das Estepes" também sou eu.

Ouço o vazio do rio, pousado inerte e despido da água, a chafurdar na lama. Sorrio.

Fecho o livro. Despeço-me da relva. Parto a sorrir. Danço para mim. Agradeço-me. Celebro-te. Sorrio.