segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Palavras com Vinho...


Sorvo o vinho, inspiro e deixo-o escorrer, maduro, num sopro de ar que não se esvai...

Faço o balanço do balanço do último ano... Inspiro, respiro e sorvo o último trago do penúltimo dia do ano, o último que estarei assim... Sozinho, comigo, inspirado por ser quem sou. Quem me tornei, neste último ano? Pergunto-me, sabendo a resposta ainda balançante também no espírito, sem a certeza de o ser, ondulante como as folhas que caem agora das árvores, ou o lixo exposto a céu aberto, também eles sombras e restos do ano que vai...

Mais um trago amadurecido do vinho que hoje sou eu, que hoje se sente, encorpado, frutado e febril... Desperto de um sonho ilusório, que hoje se transforma em realidade, não a realidade obscura dos que se escondem nos copos de vinho, mas daqueles que o sorvem com a convicção de que hoje são quem querem ser, que estão onde querem estar e que aguardam pelo que a outra garrafa lhes trás, que o ano que vem inspire as boas colheitas, as colheitas dos homens verdadeiros e de paladar apurado, que o vinho escorra pelos poros dos que verbalizam a verdade, não nas palavras mas nos actos, no levantar dos copos...

Sorvo o vinho, inspiro respiro e agradeço o ano em que me começo a conhecer, agradeço os vinhos estragados, agradeço as más colheitas, aceito-as como aprendizagem, aceito-as como o desenvolvimento do paladar de quem apenas bebia cerveja, sem saborear o conteúdo, o corpo, a presença, o estar, o sentir e o ser.
Sorvo o vinho, de um trago só. reflicto. analiso. estou. abraço o estar. reconheço-me. Respiro e acendo um cigarro.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Palavras com Janela...



Hoje queria-te aqui... Sussurrando sem sentido, procurei-te, sem querer ver-te... Querendo nem sei o quê... 

Ouvia os teus passos que me impeliam a espreitar pela janela, queria ver se eras tu que caminhavas na calçada, agradava-me a ideia de ver-te chegar... 

Já sei que não vens hoje, os passos da rua gritaram-me que não eram teus... Aceito, gosto da sensação de não ter de te esperar... Mas continuo a enfrentar a janela. Enfrento-a na esperança de não seres tu e querendo que fosses...

Nesta corrida dançante entre o sofá e a janela, compreendo que nunca te vou procurar, fico mesmo, sem certeza de o querer mesmo... 

E neste balanço imperfeito, danço uma dança desconhecida, imposta pela música que aqui é nossa...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Palavras com bússola...


Guardava a bússola num bolso esquecido dumas calças gastas e que já não usava... Confortava-me saber que ela estava lá, mesmo não sabendo onde tinha guardado essas calças, sabia-as esquecidas no fundo de uma gaveta que não me atrevia a abrir.

A bússola, lembrava-me um tempo controlado pelas manipulações quotidianas e da emergência de saber sempre para onde ir, ou que sentido dar à minha vida, se me sentisse perdida, provavelmente, ela indicaria o caminho a seguir, achava eu...
Depois comecei a esquecer-me dela, deixei de a trazer comigo ou de precisar dela para me guiar, aprendi a ser eu a direccionar a confusão mental dos dias mais difíceis, agora a bússola das manipulações era eu... 
Deixava-me manipular de vez em quando, porque achava que era o melhor para mim e dava instruções de como me haviam de guiar, sem que percebessem que agora quem manipulava era eu... Fazia-o por amor. Era essa a diferença entre mim e o manipulador do tempo e do espaço, que apenas precisava controlar para se manter confortável...

Eu só queria ver e que me vissem, para que do topo dos nossos egos instáveis, aceitasse e me aceitassem, livre para escolher o certo e o errado da minha história, sem limitações.

Afastei-me das bússolas, dos relógios, dos egos e das manipulações, afastei-me consciente de que não queria dar-lhes lugar, voltei a fazê-lo por amor...
Mas nas manipulações frustradas dos caminhos, continuam sem me ver... 
Agora já não me importa, porque sem bússola caminho mais leve, sem amarras escolho melhor  e sem ego, sou mais feliz. 
E as vozes que ainda me tentam guiar, esfumam-se e cansam-se por não se guiarem a elas...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Palavras com Hoje Sou...

Às vezes sou nada e noutras sou tudo…
Sou um isto e aquilo que se define, indefinindo-se…
Por vezes sou a força do mar quando queria ser a leveza da espuma…
Já fui teimosa convicta, hoje apenas teimo por divertimento.
Sou uma impulsiva compulsiva a tentar calar os impulsos.
Sou coerentemente incoerente.
Sou uma irreverente, maioritariamente feliz.
Sou activamente preguiça e sou criativamente organizada.
Sou irresponsavelmente responsável.
Sou inconscientemente consciente e inconsequentemente consequente...
Sou um vendaval de emoções a desprender-se de ilusões... Sou mais coração que cabeça…
Sou um Ser em construção.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Palavras com Asas...

Com Amor no coração, ouço os pássaros, o murmúrio dos pássaros... Batem as suas asas ferozmente mas não voam, não conseguem sair do lugar, deixaram de saber como se faz.
Paro para os escutar, querem ensinar-me o seu voo, quando eles deixaram de saber voar...
Não se lembram como tudo começou, dizem que se perderam no medo de lhes cortarem as asas e agora ficam-se pelas tentativas... Não esqueceram a técnica, tentam que eu a entenda, mas já não fazem a simulação do voo, o medo paralisa-os...
Aprendo o que me ensinam e percebo que não tenho as asas, sabendo de antemão que não preciso delas para voar... 
Voarei sem as asas dos pássaros, voarei mais alto, sem medo de as perder, pois nunca as possuí.
Voo feliz e sem limitações...


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Palavras com Segredos...


Segredavas-me ao ouvido que ias comigo, eu sorria e deixava-te ir... Não falavas, mas eu sabia o que estavas a dizer...

Talvez estivesse um pouco perdida mas consciente de mim e lembro que me levavas, não pela mão, não me tocavas ainda, mas levavas-me, ou era eu que te levava a ti?
Descemos a rua sem máscaras, ou apenas com aquelas que o álcool dos últimos copos nos fazia ainda carregar, não as senti ali, não as vi.
Não havia segredos, nem te podias esconder atrás da noite, porque o dia nascia liberto e feliz, como nós...
Ainda desejei a inocência de não saber o que estava para acontecer, mas não a tinha, sabia que queríamos perder-nos em nós, sem inocência alguma, ou inocentes seríamos sem saber, talvez fosse isso, talvez afinal houvesse alguma inocência ou ingenuidade no meio disto tudo, ou talvez preferisse achar que assim era.
Havia sempre o depois, o inesperado, o que não irias controlar, o depois... O depois em que te despias de ti e em mim, porque sim, porque nos querias despir aos dois, e fizeste-o, acho eu, sei-o ou senti-o, ou sonhei, foi isso, sonhei. Sonhei acordada que nos entregávamos sem pudor e sem medo do que viria amanhã, amanhã que era hoje, um dia que não ia acabar, lembro-me de querer ficar.
Antes, foi o toque, o silêncio, a música e a poesia e os corpos e o suor e o cansaço, daqueles que se deixam levar, que existem e que são, nem que seja efémero o momento, é esse o segredo que fica, não os outros...
Recordo quando apareceram os segredos, ou as mentiras, foi quando tocou o telefone, não sei se da primeira ou da segunda vez, tentei ignorá-lo, devia tê-lo feito, mas não fiz. Deixei entrar a culpa, envenenei alguma coisa que de venenosa tinha pouco ou nada, pensei nos outros, esqueci-me do aqui. 
Depois, depois veio o depois que já não te deixa ser o agora e as culpas desvaneceram o resto...
Mas os segredos guardo-os em mim e em mim não são segredos, são vidas que se cruzam e entregam porque querem, vidas que esperam pelos dias de lucidez e que não esperam coisa nenhuma.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Palavras com Preguiça...

Acabaram os dias de preguiça, aqueles dias em que nem mesmo os teus pensamentos de revolta te deixam reagir. Acabaram as certezas absolutas e com elas, os conceitos, as predefinições e as inquietações acopladas com o peso e a forma das palavras... As frases continham o sentido, mas não a densidade com que outrora foram proferidas, os pensamentos surgiam fluídos, e a revolta dava lugar a uma calma desconhecida. Não havia preguiça, mas também não havia pressa. 
Sorri, ria-me de mim mesma e da importância que dava às horas de confusão mental, à espiral de antagonismos que continuava a permitir que se confrontassem comigo, sorri indiferente para este novo Eu que começava a descobrir. Contabilizei o tempo que perdia na busca de respostas, das certezas e incertezas de nadas, de angústias e calafrios de felicidade e até daqueles dias, em que estava sempre tudo bem, sem estar realmente.
Continuo a rir-me de mim, renasço a cada passo, tacteando não aquilo que quero ser ou dizer, mas moldando-me em formas novas de leveza, como se reaprendesse a conhecer-me, como se me tivesse sido apresentado um novo alguém que por acaso, sou eu. 
Sempre fui rebelde, as injustiças revoltavam-me e tinha a certeza de que as causas eram justas e os corações eram puros, não duvido que o fossem, ou sejam, mas estavam carregados de histórias e vidas e memórias que já não coabitam em mim.
Continuarei, não preguiçosa, mas com o olhar atento de quem chegou agora, aprenderei a despir os conceitos, as sabedorias, aprendo de novo, o que a preguiça não me deixou ensinar...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Palavras com Sol...

Limitava-me a esperar-te, mesmo quando a certeza de que não virias assomava, eu esperava...
Sabia que não te tinhas ausentado por muito tempo, sabia que amanhã estarias aí com o teu sorriso rasgado e o abraço quente a que me habituaste, sempre...
Mesmo nos dias em que teimavas em não aparecer, o que ficava era esse teu abraço, quente e intenso, um abraço que abraçava mesmo e aquecia, como nenhum outro.
Às vezes deixava passar as horas e esperava-te na praia, esquecida no último abraço que me tinhas dado, apenas isso, esquecida no abraço que hoje não tinha, o abraço quente que não me fugia, ainda que não o sentisse hoje. 
Abracei-te e esperei-te tantas vezes, quantas as que nascias para mim, estavas lá omnipresente, nos dias em que só a chuva me comprava as lágrimas e as levava com ela... Estavas lá nos dias frios e cinzentos, quando, nem toda a roupa me deixava lembrar-te, estavas sempre lá, até quando eu duvidei... 
Depois, havia os outros dias, em que a tua presença era tão profundamente sentida que não me permitia sequer duvidar, vibrante de calor, de amor e do abraço, desse abraço que permanecia em mim, até aos dias de Inverno em que me visitavas timidamente e sem avisar... 
Hoje abraço-te de novo e deixo-me ficar...

sábado, 30 de março de 2013

Palavras com Portugueses...

Foi a criança que a fez despertar do coma profundo em que estava mergulhada, absorta no livro ou nos seus pensamentos, não consegui adivinhar... Até aí era um espectro daquele espaço iluminado e branco de luz, vim a saber mais tarde que passava ali as tardes, dizia que em casa de tarde não batia o sol, que a casa ficava escura, então ia até ali ler um pouco e conversar com as pessoas.
- Sabe, na rua eu não meto conversa com estranhos, mas aqui, aqui, sinto que não faz mal e eu gosto de falar com as pessoas, gosto muito dos portugueses... Só quem nunca saiu de Portugal é que não percebe o valor que temos, somos um povo muito bom, eu gosto muito dos portugueses - repetia-me ela. 
Eu limitei-me a sorrir e nesse momento, fiquei disponível para ouvi-la...
Mas foi a criança que a fez acordar, como um raio, entrou pela sala a correr, era uma menina com cerca de um ano e meio, não devia ter mais e corria como as crianças daquela idade correm, sorria para nós e agarrava nos papéis espalhados em cima da mesa e mandava-os ao chão, a mãe apressava-se a arrumar a confusão e nós sorríamos, como se sorri para as crianças... 
Ela, levantou-se do seu lugar de braços estendidos em direcção à menina e pediu, - Posso pegar-lhe ao colo, tenho tantas saudades, os meus netos já são crescidos, tenho saudades, estou à espera do nascimento de uma bisneta, tenho saudades de quando eram pequenos e lhes pegava ao colo... Posso? - Insistiu. Os pais da menina entreolharam-se, encolheram os ombros e disseram que sim, esboçaram um sorriso tímido de quem talvez quisesse dizer que não, mas que perante a situação não foi capaz. A menina corria e queria tudo menos ser pegada ao colo... Ela voltou a tentar e depois de lhe dizermos, - É  uma criança sabe, eles às vezes só querem mesmo é correr e fazer gracinhas, não gostam que as agarremos... - Ela concordou e lá desistiu. Sentou-se ao meu lado e continuou a contar-me a sua história, contou-me que era das primeiras arquitectas portuguesas, nasceu numa família do Norte muito numerosa e abastada, eram 11 irmãos e todos se formaram, naquele tempo não era comum, o ensino estava vedado aos que podiam... Eu fui professora muitos anos aqui no liceu ao lado, houve uma época antes do 25 de Abril que o meu marido estava a ser perseguido pela Pide, ele também era arquitecto e um dia disse-me que tínhamos de sair de Portugal, viajámos para o Canadá, eu era muito jovem tive de me separar de dois dos meus filhos, não podia levá-los comigo... O que me custou aquela separação, ninguém faz ideia... Chorava todas as noites, chorava muito, foi muito difícil... As mulheres ainda não tinham a liberdade que há hoje, eram outros tempos...
No Canadá, consegui emprego como professora, no primeiro dia de aulas confundiram-me com uma aluna, eu tinha uma figura bonita, era alta e magra, tinha cabelo loiro comprido e parecia uma miúda,  demorei ainda algum tempo a fazê-los entender que era a nova professora de Geometria Descritiva, foi muito engraçado. - Mas eu gosto mesmo muito dos portugueses, só quando deixamos o nosso país, percebemos o valor das pessoas, - O Canadá é um bom país para se viver, mas as pessoas, não são como nós... Houve um episódio no metro que jamais esqueci, continuou - Uma senhora caiu para a linha do metro, ou atirou-se, não sei e não a vou julgar, pois só ela e Deus sabem o que aconteceu, mas estava eu a contar, - hesitou como se tentasse recordar os pormenores, e prosseguiu - Houve este episódio e ninguém fez nada, eu fiquei transtornada e chamei alguém da estação para relatar o que tinha acontecido, mas todos os que estavam perto de mim e tinham assistido continuaram como se nada fosse, entraram no metro quando as portas se abriram e nem hesitaram, eu não consegui... O responsável da estação a quem me dirigi indignadíssima, disse que eu não devia reagir assim e que as autoridades até podiam pensar que a tinha empurrado... Fiquei incrédula a olhar para ele... Nós não somos assim, somos mais humanos, a menina imagina isto a acontecer em Portugal e as pessoas a reagirem desta forma? Não... O nosso povo não é assim, insensível... O meu marido faleceu pouco tempo depois e eu regressei imediatamente ao meu país, não podia continuar a viver ali... Não imagina a emoção que senti quando estava a chegar a casa, que alegria, estava de novo no meu querido país. Por isso gosto tanto do nosso povo... 
Levantou-se de novo com os braços estendidos em direcção à criança, - Posso pegar ao colo, posso? Os meus netos já são crescidos, estou à espera de uma bisneta, tenho tantas saudades deles pequeninos e de lhes pegar ao colo - repetiu.
Eu ouvi mais duas ou três vezes as histórias que me contava, repetia-as e eu tentava reagir como se as ouvisse pela primeira vez, enquanto aguardava que chegasse a minha vez de ser atendida. Tinha pensado sair por momentos para comer qualquer coisa, pois não tinha almoçado e tinha tempo para o fazer, mas não consegui sair e ignorá-la ou impedi-la de me contar a sua história.
Ao nosso lado tinha-se sentado um homem de negócios que adormeceu enquanto falávamos... Chegou a minha vez e despedi-me cordialmente, desejámos felicidades uma à outra. 
Olhei para trás e ainda a consegui ouvir, - Sabe, na rua eu não meto conversa com estranhos, mas aqui, aqui, sinto que não faz mal e eu gosto de falar com as pessoas, gosto muito dos portugueses... - repetia ela para o homem de negócios que agora estava acordado e tentava dar-lhe atenção... 
Afastei-me a sorrir, sim, os portugueses são boas pessoas...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Palavras com maré...

Levava-te comigo, e comigo levava os sonhos...
Deixei-os ir com a maré, iludidos, intuídos e projectados em nada...
Um nada que foi com a corrente, deixei-os ir, deixo-os ir...
O barco não está à deriva... Não se perde nem se encontra, segue o rumo, levado por nada, também... Sustenta-se nas velas firmes que o amparam e o deixam deslizar sem destino... 
Flutua sem nada querer ou esperar, deixa-se levar pelo mar que por vezes o engole, mas que também o abraça e o deixa sonhar outra vez... Um dia encontrará o porto onde aqueles nada que são tudo o esperam, nesse dia saberá que chegou.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Palavras com Quarto...

Os sonhos colavam-se aos vidros enquanto o suor descia a pele, num abafo de sentidos evaporados e de suspiros sussurrados...
As gargalhadas eram quentes e eram frias e soltavam-se livres pelo quarto. 
O ar tão impregnado de nós, como se outros nunca lá tivessem passado... 
As fantasias corriam ao sabor dos pensamentos, sem premeditação, apenas uma antecipação envergonhada daquilo que poderia ser encenado, como se os momentos se encadeassem uns nos outros, como se tivéssemos algum controlo no sentir, no ser ou no fazer, como se aspirássemos essa perfeição imperfeita de que éramos feitos...
Os corpos, continuavam a conhecer-se e a descobrir-se, por vezes, ainda esqueciam o caminho, ou ocultavam deles próprios que já se tinham encontrado tantas vezes, e descobriam felizes que ainda não se conheciam de todo...
Nós deitados de mãos dadas e com um sorriso parvo estampado na cara, ríamos imbecilmente das confidências partilhadas naquela cama redonda, nossa por uma noite, mas impregnada de outros namoros e namorados, amantes desesperados, solitários inacabados, corpos, apenas corpos, que como nós, por ali tinham pernoitado, com suas fragilidades, cumplicidades, os seus sorrisos amedrontados, as grandezas e as futilidades... 
Mas o quarto não nos falava deles... Guardou-nos com ele, ficámos a balançar com as cortinas que guardam segredos, no espelho que aprisionou o nosso reflexo, na alcatifa cor de rosa que testemunhou tantas loucuras, mas que só se lembrava das nossas, ficámos impressos nos poros das paredes que se apaixonaram por nós... 
O quarto não parou de falar, ainda oiço o seu riso nervoso, quando tenta contar a nossa história aos apaixonados que o visitam, aos outros... Aos outros, deixou de contar...

Para o meu Amor...