sexta-feira, 30 de março de 2012

Palavras com esperança...


Construo os meus castelos de areia, sem temer o amanhã incerto, para mim o hoje basta.
Abraço a incerteza com a convicção de que os meus castelos não se vão desmoronar...
Do meu universo das fragilidades, retiro o supérfluo, sei que não enriqueço a minha vida com ele, então de nada me serve... Continuo a caminhada para aceitar o que não entendo... Ao medo de cair, de perder, ao medo em geral, mando-o embora, ele não mora aqui, por isso, não o vou ouvir...
O que me resta? Tudo o que não se vê... A energia que me abraça sem que eu peça, a liberdade de ser eu a escolher o meu destino, o sol que me aquece sem cobrar, o silêncio, esse silêncio que me faz ouvir, que me faz crescer... 
Guardo comigo todos os que me acompanharam e por algum motivo partiram, deixaram-me a maior herança de todas, não a saudade imensa que corrói, mas o peito cheio de alegria quando os recordo, tão bom continuar a vê-los sorrir... Os abraços apertados, a cumplicidade, a amizade, o amor, os momentos, aqueles momentos que não contêm palavras...
As minhas construções na areia não terminaram, longe disso, vivem e crescem dentro de mim... Continuo a plantar sementes encantadas que espero que resultem em frutos mágicos, daqueles que ouvimos falar nos contos infantis... Rego-as com esperança na mudança, alimento-as, aguardo que cresçam, aprendo e mudo com elas, como uma criança, liberto nos meus castelos a possibilidade de se construírem sozinhos... 

terça-feira, 27 de março de 2012

Palavras com actores...

No teu palco a minha vida enriqueces...
Tens pressa e tens sede de encarnar...
Personagens fugazes e inesquecíveis 
confundem-se no que és.
Roupas vestidas e soltas do ser que encerras em ti...
Revelações de actos encomendados, desesperados, 
emotivos, despido de preconceito, até ao cair do pano.
Quem és tu por detrás da capa, dessa máscara 
que se cola e descola e se mistura...
Com adereços partilhados, que contam histórias, 
ou na nudez crua do corpo, nunca te intimidas...
Olhares cruzados, partilhas e vazio, és ponte 
desse mundo a que chamas teu...
Pessoas e locais, ruídos intemporais, 
imagens de corpos desenhados,
boneco de carne e osso e alma e vida.
Conta-me quem és, ou deixa-me adivinhar...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Palavras com cansaço...

Cansada de piegas, de filósofos, de desgoverno...
Cansada de acomodados, revoltados sem causa, de desunião...
Cansada de políticos, de escravos, de cordeiros e rebanhos...
Cansada de frases feitas e sem sentido...
Cansada dos que falam e nada fazem... Cansada dos que fazem na calada...
Cansada de manipuladores de opinião, de ignorância e de apatia...
Cansada de respeitar quem não se dá ao respeito... 
Cansada de gente doente, mesquinha, sem rumo nem opinião...
Cansada dos que se dizem sem partidos, contra tudo e contra todos, mas não apresentam solução...
Cansada do politicamente correcto, de tolerância e amor ao próximo, quando o próximo não vê para além de si...
Cansada de dados adquiridos, de regras, de inevitabilidades...
Cansada que vendam o meu país, cansada de ser subjugada a interesses que não são meus...
Cansada de ser roubada, de injustiças e de abusos de poder...
Cansada de ver em terra de cegos...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Palavras com poetas...

Poeta que te entregas quando te queres esconder 
e te escondes quando te queres entregar...
Sonhas e fazes sonhar, choras sem acreditar,
lutas para te encontrar...
As palavras são as armas que não pediste para usar...
Teus poemas, ironias, sentimentos, iguarias e outras sinfonias...
Caneta descontrolada, que nem te guia nem nada, 
mas que te obriga a escrever...
 Canta-nos as tuas palavras, sem medo, sem chão e sem ar, 
encanta-nos com o teu respirar... 
Poeta iluminado, destruído, louco, soldado, 
marido, amante e amado, indigente, letrado, 
reconhecido, anónimo, amado e odiado...
Partilha connosco o teu fado...
Ajuda-nos a viajar...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Palavras com Pai...


Semente insubstituível, que plantas em si...
Refugias-te no sol à espera que te ensinem o que 
deveria ser inato, mas não é.
Aprendes com os teus, com os nossos erros e dás, mais e mais...
Segues os passos, as palavras, ajudas a levantar, 
porque não consegues evitar o cair...
Sabes que não é fácil, mas não desistes de apoiar a tua cria...
Demonstras que és força, mas o teu olhar denuncia-te...
Aprendes a amar de dia para dia, aprendes a dar-te, 
como nunca te ensinaram a fazer...
Cresces comigo, meu pai, meu herói, meu amigo...

Para o meu Pai com Amor

sexta-feira, 16 de março de 2012

Palavras com rio...

Partilhavam confidências na beira do rio, as suas tardes eram tranquilas como o curso calmo das águas que os envolviam... Nos dias de calor mergulhavam nus naquele rio que conheciam tão bem, as tardes passadas ali eram tão agradáveis, faziam-nos esquecer as vidas cansativas e monótonas que tinham, o rio contava-lhes histórias que iam e vinham, ao sabor da corrente... Quase ninguém conhecia aquele sítio e eles mantinham-no em segredo, queriam continuar a ser os únicos exploradores daquelas margens onde se escondia um tesouro. Em crianças, tinham inventado uma história que contava que numa das margens do rio existia um tesouro escondido, enquanto cresciam, foram acreditando que a história, outrora inventada, afinal era real...
Naquele dia porém, não estavam sozinhos... Tinham acabado de se despir e mergulhar no rio, entre gargalhadas e conversas, os gritos e os ecos, a competição e as lutas, afinal voltavam a ser meninos a brincar, cada vez que mergulhavam no rio... Elas, chegaram sem que se apercebessem, observavam-nos da outra margem, não eram daquelas paragens, eram raparigas da cidade, notava-se pela forma descontraída das roupas, a rebeldia inerente, exploradoras também dos recantos da terra, raparigas destemidas, mas que não conseguiam disfarçar os risinhos nervosos de quem apanhou ou foi apanhado, desprevenido, fingiam fotografá-los nus, para os intimidar e riam da sua reacção envergonhada, eles nadavam para a margem com vigor, fugiam da câmara desligada, que não era mais que um adereço da brincadeira que elas tinham iniciado, mas eles não sabiam... Vestiram-se rapidamente e depois de se sentarem, acenaram-lhes e sorriram, elas responderam e foram embora a correr e a rir alegremente... 
Eles ficaram calados um tempo até as deixarem de ouvir, ficaram de novo com o silêncio sagrado e com as suas conversas lentas e bem dispostas. Mas hoje, tinham uma nova história para contar no café aos amigos, começavam por dizer que tinham conhecido umas moças da cidade, depois relatavam pormenores que não tinham acontecido mas que tornavam a história mais apelativa, como se tinham divertido juntos, como elas quase se tinham afogado no rio e eles heroicamente mergulharam para as salvar, depois acrescentavam mais alguns detalhes que haviam de compor a narrativa. 
A história, essa, seria falada e contada na terra, tantas vezes e durante tanto tempo, que se tornaria real, tal como o seu tesouro perdido... E assim deslizavam os dias, felizes e tranquilos rio abaixo...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Palavras com adeus...

Sentirias a minha falta se partisse?...
Ontem deixaste-me só, eu não vi que continuavas aí...
Na procura, fugi para me encontrar de novo...
Há muito que este corpo, vagueia sem mim...
Se me esquecesse no tempo, voltaria a encontrar-me?...
Os meus olhos estão vazios de mim...
A loucura, já não é minha, abandonou-me também...
Nem a alma já me pertence...
Retalhos de uma vida perdida, sou...
Angústia senil que teima em perseguir-me...
Desapeguei-me de mim...
Quero ir ao meu encontro...
Sentirias a minha falta se partisse?...

terça-feira, 13 de março de 2012

Palavras com fumo...

Fumo de um cachimbo que falava de paz...
construía-se um sopro de liberdade,
mas escondia-se na fumaça de não ser capaz...
Firmemente agarrava-o com vontade,
para não esquecer seus desejos de rapaz.

Homem se fez e continuou a fumar,
e no cigarro e no cachimbo e nessa ansiedade,
não perdeu a capacidade de conquistar,
o que lhe queriam negar sem lealdade...
Entre uma passa e outra, continuou a lutar...

Velho ficou, com sua rouquidão
de quem muito fumou, mas sem nunca esperar,
que naquele tempo de ilusão,
lhe tentavam roubar, o que o fez lutar...

Com seu cachimbo, sua companhia,
não deixou de acreditar na sua verdade...
Hoje cansado, mas com alegria,
pede que lutes de novo, pela Liberdade!


segunda-feira, 12 de março de 2012

Palavras com Luz...

Escondi-me na escuridão profunda, sem forças para me elevar... Achei que ia ficar por lá, não me permitia sair... Estava tão confortavelmente habituado ao escuro, que só de pensar em ver de novo a luz, me fazia arrepiar, essa luz não é para mim, pensava... Ao longe ouvia as tuas gargalhadas, como se desdenhasses da minha escolha... Gritavas por mim, incitavas-me a sair... 
Mas eu não queria, o negro daqueles muros eram o meu conforto, entre aquelas paredes erguidas por mim, sentia-me seguro, nada me podia atingir... Tinha construído uma teia bem firme, balançava-me nela, não conseguia sair, mas sentia-me bem...
A cada dia que passava, as tuas gargalhadas e gritos eram cada vez mais ensurdecedores, já não os conseguia calar, perguntava-me que mal te tinha feito, para gritares tanto por mim, rogava-te que me esquecesses e me deixasses sozinho... Mas tu não desistias, cada vez gritavas e rias mais alto, pedias-me para seguir essa luz que me ofuscava e que eu tanto temia... 
Já não aguento mais ouvir-te, resolvi libertar-me da teia e dos muros e do escuro, sigo ao teu encontro, oiço as gargalhadas e  a tua voz que chama por mim, já não me gritas. Sinto-me pleno e em paz, o medo abandonou-me... Começo a ver a luz... 


sexta-feira, 9 de março de 2012

Palavras com sono...

Deixa-me ficar aqui sossegado, porque estou cansado....
Estou cansado das tuas coisas, falas muito, não percebes que já não me apetece brincar?...
Desde quando decides tudo por mim? Se te pedi para parares... Pára de me atormentar com a tua vida complicada, não percebes que sou só uma criança?
Tenho sono, quero dormir... 
Não quero as tuas preocupações, nem frustrações, nem os teus medos... Só quero dormir, porque tenho muito sono... Ontem disseste que ias parar de me contar essas histórias que não me interessam para nada e me assustam, eu pedi-te para irmos jogar à bola, mas tu disseste que não tinhas tempo... Não tinhas tempo para mim... Pois hoje, sou eu que não quero ter tempo para ti... Deixa-me sonhar com os meus castelos e monstros sem cabeça, com heróis e fantoches, com grutas e carros velozes... Deixa-me sonhar que estou a correr lá fora, deixa-me gritar e correr, correr sem parar e por favor, não me digas que vou cair, não me faças desistir, como tu... 
Deixa-me dormir, deixa-me sonhar, deixa-me voar...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Palavras com Mulheres...

São a força que nos acolhe no seu leito sensível...
São o mar revolto que nos envolve num abraço...
São o nosso coração...
São Amor em estado puro...
São divas, são divinas e são mendigas...
São guerreiras de luz onde reina a escuridão...
São vento, são brisa, são ar...
São guerra, são luta e são paz...
São verdade, são mentira e são segredos...
São o ventre que nos dá colo...
São sabedoria, liberdade, são maiores...
São confiança, são o porto, são abrigo...
   São mães, são filhas e são órfãs...
São tudo e nunca nada, porque são vida...
São poema inacabado...

São Mulheres!

terça-feira, 6 de março de 2012

Palavras com acasos...

Encontraram-se um dia por acaso, depois, começaram a encontrar-se por acaso muitas vezes...
Os seus passos guiavam-nos sempre para aquele lugar comum...
O desejo e ânsia de partilharem aquele momento, começava a ser desconcertante... Nunca falaram um com o outro, ficavam a observar-se de longe no inicio, com o passar do tempo aproximavam-se cada vez mais, agora, um ano depois, sentavam-se sempre frente a frente, olhavam intensamente um para o outro, olhos nos olhos, sem proferirem uma única palavra, bebiam um café, saboreavam cada segundo daquele ritual, mantinham com uma religiosidade quase mórbida, o encontro, que de fortuito já nada tinha, mas que lhes alimentava os dias e as horas mais solitárias...
Ela, era sempre a primeira a ir embora, esboçava um sorriso tímido e corava, ele, sem nunca desviar o olhar, ficava mais uns minutos a vê-la desaparecer e depois, seguia também o seu caminho... Muitos eram os pensamentos nunca revelados, que os acompanhavam nos seus respectivos percursos... Tinham ambos uma única certeza... No dia seguinte, estariam juntos novamente e isso bastava-lhes... 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Palavras com imagens...


Exploradores do destino dos outros, que se iludem na imagem 
projectada em si...
Desafiam a tela pintada por eles, recriando a imagem de 
ontem e de hoje, num sentir fugaz de quem já voou 
muito alto, sem querer cair no abismo...


sexta-feira, 2 de março de 2012

Palavras com dor...

Somos apenas despojos de nós que sem querer nos separamos do ser... 

- Quem és tu? - Perguntei-lhe sem pensar...
- Eu, sou aquilo que vês e sentes... - Respondeu-me ela com um sorriso. Depois, mergulhou novamente no seu mundo inatingível, calada, suja e quieta, apenas balançando o seu corpo para um lado e para o outro, num movimento lento e contínuo...
Por muito tempo aquela imagem não me saiu da cabeça, ela era linda, jovem, inteligente e aparentemente normal... Quem ou o quê a fez chegar ali, que circunstâncias da vida a fizeram perder no caminho?... Quando mergulhou ela naquela apatia sem fim?... 
Pensava e não obtinha nenhuma resposta... 
Mais tarde comecei a reflectir sobre as suas palavras, "- Eu, sou aquilo que vês e sentes...", mas que via ou sentia eu, na realidade? Procurei mais profundamente, naquilo que senti a primeira vez que a vi e lembrei-me... Tu és eu, pensei... Tu e eu, somos iguais... O que me distingue de ti? Um episódio? Um momento? Porque foste parar ai e eu me mantenho à tona, sou melhor que tu? 
Não, definitivamente, não sou... 
Sabia que aquilo que nos separava era invisível e muito frágil, comecei a tentar entender e a não esperar uma resposta coerente, qualquer uma que me desse servia, adorava vê-la sorrir e ouvir as suas histórias sem sentido, nesses momentos, esquecia-me que ela ia voltar para aquele mundo onde só ela entrava, não me importava... Afinal, ela era eu, não a ia julgar... 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Palavras com areia...



 Passos nus que deslizam no silêncio, interrompendo por momentos 
a música das ondas, lá longe... 
Dizem-me que nasci livre, livre, para escrever na areia o caminho
incerto da minha história, oiço-os com atenção, naquele instante, 
livre sou... 
A história é feita de areia e ondas do mar, de corpos que dançam 
nas dunas despojados de pudor, de suor e de ventos incertos... 
A história não acabou, tal como a areia que nos escorre 
das mãos, também ela flui ao sabor da sua vontade, livre 
como eu, de se escrever sozinha...