domingo, 30 de dezembro de 2012

Palavras com Resistência...


Resisto ao passar das horas na palpitação dos segundos...
Resisto à força do vento arrebatador de sentido único, ou sem sentido nenhum...
Resisto ao barulho que ofusca o silêncio e corrompe os dias frios...
Resisto a levantar-me daqui e resisto a ficar sossegada...
Resisto por insistir, resisto em existir, resisto sem resistir...
Resisto inquieta à tua calma que me esgota e resisto calmamente quando a tua inquietude me assalta...
Resisto sem medo e sem me iludir e iludo-me achando que sempre irei resistir...
Resisto sem ambições desmesuradas, numa resistência feliz que me conforta e acalma...
Resisto na pureza do branco, sentada num banco sem idade, que há muito deixou de sentir...
Resisto sem desistir, resisto em existir, resisto sem resistir...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Palavras com Fé...

Divorciei-me da Fé, no dia em que os homens escreveram a história dos deuses e a deturparam...
Rejeitei-lhes as regras, pois nelas não reconhecia, Amor, Verdade ou Justiça...
Critiquei-lhes os actos, pois neles não se reflectia o que proclamavam...
Senti-me sozinha muitas vezes, por acreditar numa única "religião" da qual nunca tinha ouvido falar pela boca de outros, aquela que se guia pelo Amor Puro, mesmo não sabendo muito bem o que seria, foi nela que cresci a acreditar. 
Também eu procurei definições, amuletos, certezas do Todo e do Nada... 
Continuei vazia...
Houve uma altura em que deixei de procurar, acreditava que Deus era o Todo e a Natureza que se manifestava, tudo era energia, Ele era Eu, não existiam diferenças. As religiões, eram só e apenas a Verdade que cada uma continha num Abraço desse Todo que lhes era comum. 
Falaram-me de Ti e tudo começou a fazer mais sentido, afinal não estava sozinha, afinal haviam muitos que tinham dúvidas e pensavam como eu, afinal, a Fé, ainda existia em mim... 
Hoje, sei que ainda estou a despertar, ainda questiono muito, faz parte do que sou, sei que tenho de me manter atenta, sei que tenho de me disciplinar todos os dias para ser melhor, e sei que haverá vezes que me vou desviar do caminho, mas hoje, tenho uma certeza, não estou sozinha...
Já não questiono o que vem de Ti, o que consigo explicar ou o que não tem explicação, mas mais importante que definir ou explicar, é sentir e esse sentir é real, isso basta. 
Sou abençoada por te ter encontrado no meu caminho, nessa busca interna, encontrei-me com o teu sorriso bonito, o teu olhar verdadeiro e esse abraço onde queremos permanecer, que ficará para sempre em mim... Sei que me levas pela mão, mas também sei que esse percurso tem de ser feito por cada um de nós... 
Na tua Luz serei mais Paz, na Vida sorrirei para Nós, o Amor será levado por todos e por cada um a cada coração. 
Obrigada por não desistires de nós. Obrigada por nos iluminares o caminho.
Obrigada Mestre, Amiga!!!

Para a minha Celeste com Amor

domingo, 30 de setembro de 2012

Palavras com Mentiras...

Nas dúvidas que teimam em perseguir-me, hoje detive-me nas mentiras, nas inúmeras mentiras que te seguem formando palavras bonitas, ou nas outras que servem apenas para escamotear realidades que não são tuas... Aquelas mentiras pronunciadas com sabor de verdade (sabe-te bem que assim seja), dessas que te inundam os ouvidos e não fazem sentido, ou das outras onde te escondes achando que ao fazê-lo manténs a postura intacta, ou ainda tens aquelas que já não as querendo ouvir, continuas a recebê-las em sonhos, com a certeza de que não é de sonhos que tratam...
Pergunto-me porque insistimos nestes jogos de manipulação em que sentimos segurança na fragilidade de uma mentira, achando que por mentir enganamos ou iludimos alguém, quando na realidade, apenas nos enganamos a nós...
Há muito que tento que a mentira não faça parte do meu pequeno universo, não daquele universo onde todos estamos inseridos e com o qual temos de conviver, mas naquele só nosso, onde só cabem as coisas que são feitas de verdade, aquele, onde as máscaras acabam por cair, mesmo as que usamos apenas para nos defender, de algo que não conhecemos, não precisamos delas...
Hoje, deixo cair as minhas máscaras. Hoje, livro-me de todas as mentiras que insisto em manter perto de mim. Hoje, vou deixar de alimentar as tuas...
Hoje, na força da minha verdade, a tua mentira não tem espaço... 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Palavras com Férias...

As águas estavam calmas e o céu  era uma tela tranquila, que nos inspirava a sonhar acordados, ou simplesmente, ficar a contemplar aqueles pequenos nada que são tudo...
As crianças brincavam à beira-mar, nós sentados na areia, tentávamos descontrair e simplesmente esvaziar os pensamentos das coisas quotidianas que ainda teimavam em aparecer de vez em quando, a conta que ficou por pagar, o computador que ficou ligado, se tínhamos regado as plantas, de quem era o próximo aniversário... O nosso esforço consistia em não pensar em nada, esse, era o maior desafio que tínhamos levado na bagagem, esvaziarmos de tudo. 
Era o primeiro dia de férias, o descanso tão esperado e merecido, depois de um dos anos mais difíceis das nossas vidas, sabíamos que ainda estávamos longe de ver todos os problemas resolvidos, mas naquele momento, queríamos ser capazes de apagar todas as coisas negativas e apenas usufruir do silêncio, dos sorrisos, do calor, das brincadeiras,   das pessoas que cruzariam o nosso caminho, das cores e dos sabores que nos esperavam.
Ao fim de umas horas começávamos a perceber que o objectivo a que nos tínhamos proposto, seria mais complicado de atingir do que previamente pensámos, parecia-nos mais fácil quando o delineámos, a bagagem era bem mais pesada do que queríamos acreditar. Tudo o que tínhamos acumulado parecia não querer sair das nossas costas, a "mochila" estava carregada. 
Lentamente e com o passar dos dias e das horas, intensificámos o exercício, contemplávamos mais, falávamos menos e tentávamos que os minutos não existissem, ou influenciassem os nossos dias, nem sempre era possível, por causa das crianças, mas também elas se foram adaptando à nova rotina, ou falta dela. Os dias começaram a parecer maiores e todos os detalhes, faziam com que esse novo dia, fosse para nós, o melhor de sempre... Já caminhávamos com uma leveza que há muito não reconhecíamos... Foi num desses momentos que me puxaste pela mão contra ti, eles dormiam na sombra do chapéu-de-sol, começámos a caminhar num passo lento de mãos dadas, a intensidade com que me olhavas, dispensava as palavras, de repente começámos a correr pela praia, agora parecíamos nós as crianças, mandávamos água um ao outro, ríamos e abraçávamos, acreditando e sentindo que aquelas já eram as melhores férias de sempre. 
Percebi que tínhamos atingido o nosso objectivo, a bagagem tinha ficado para trás e que dali para a frente, seriámos sempre capazes de enfrentar as dificuldades com que nos íamos deparar no caminho... Agora sim, estávamos finalmente de férias...

terça-feira, 31 de julho de 2012

Palavras com roda...

A roda gira sem parar, não existe meia roda, assim como, não existe meia vida... 
A Vida que gira e te guia e te inebria, por ela morres, por ela vives, não finges ser quem não és, não finges viver, ou será que finges? 
Na roda viva da vida, existe um tempo que é hoje que te obriga a girar, sem parar, não tens de temer esse balançar, só tens de avançar e rodar, rodar sem parar, rodar até cair, rodar sem pensar, num rodar que te vai libertar...
Sente o vento, os pés a bater no ar, o cabelo a voar... E nessa roda que gira e que vibra, gira e vibra com ela, sente o seu vibrar, não te deixes enganar, não te canses de rodar...
Namasté

domingo, 10 de junho de 2012

Palavras com Silêncio...


No Silêncio dos meus passos, sigo o trilho ao encontro do meu Ser...
Nas pedras deixo os chinelos, o caminho é feito descalço, preciso de sentir a terra a pulsar nos pés, a dor das imperfeições do eu, que um dia deixarei para trás...
Não busco a perfeição dos deuses, a minha procura é a da imperfeição pura dos homens livres, desses, que caminham descalços sem medo de voltar a magoar-se...
Abraço-me neste Silêncio... 
Encontro adiado tantas vezes, tantas quantas calei o que não queria ouvir ou ver...
Silenciei vozes que me contavam verdades e silenciei as que me mentiam em surdina...
Hoje, silencio-as de novo, para em silêncio, conseguir ouvir-me apenas a mim...


Peace!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Palavras com crianças...

Sem a maldade dos homens, sábios duendes, pureza líquida, com um olhar nos matam, com pequenos gestos mostram-nos sem pedir, o que vos faz feliz e tudo o que precisam...
Quando nos esquecemos nós de ser vocês... Quem nos fez crescer, sem pedirmos... Busca incessante de ti, minha criança interior, faz-me rir de mim, ensina-me a voltar aquele tempo em que nada tinha importância, aquele tempo, em que tudo era vento, correria e dança... Aquele tempo em que um beijo curava tudo e um sorriso me devolvia a esperança... 
Sei que ainda moras em mim, às vezes saltitas como se me chamasses para brincar e, eu vou... Tenho saudades de quando uma guerra de cócegas me tirava o ar, quando deixámos de saber brincar? Não me deixes de chamar, porque é na tua pureza e nesse sorriso brilhante que me quero encontrar, encontrar com o teu riso, a tua frescura e beleza, a tua sensatez infantil e descomplicada, que me instiga a voltar a ser eu... 
Não me deixes de chamar para brincar, não te canses de gritar pelo meu nome, porque és tu que me manténs a esperança, és tu que me susténs, criança...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Palavras com Mãe...

Do teu ventre rasgado à descoberta, nesse mar calmo que ensina a nadar, antes de o sermos já nos acolhes, num querer ficar que não se explica...
Destinada e na certeza, serás a escolhida. A ti concederam o poder de dar vida, no teu colo protegido sentimos esse amor incondicional, que apenas para ti foi guardado... Dádiva da mãe natureza, da sensibilidade, és poesia, és beleza pura, incomparável, desigual, indefinida, muitos vão tentar agradar-te e definir-te, mas poucos conseguirão transmitir a grandiosidade da tua generosidade... 
Estaremos sempre a teus pés, porque tudo, será sempre pouco para te agradecer o sopro da Vida.
Guia dos nossos passos, guerreira das nossas amarguras, abrigo das nossas mágoas, aventureira dos nossos sonhos, enfermeira das desventuras, costureira das nossas feridas,  nossa amiga de todas as horas... 
Leitora e escritora da vida que não dominas, não controlas, não é tua, mas por ela, tua vida entregarias...
Mulher, deusa da vida, nossa Mãe...


Para a minha Mãe com Amor

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Palavras com amigos...

Tantos momentos e histórias, alegrias e tristezas, conversas, beijos, abraços, sorrisos, gargalhadas, lágrimas, discussões, trambolhões, férias, saídas, encontros e desencontros... 
Na música, no caos, na paz e no silêncio...
Ensinaram-me a crescer, a dizer sim quando queria dizer não, levantar e cair, sem rede e com chão, com nuvens e mar e sol e chuva e vento, a pé, de carro, comboio, avião, viagens intermináveis na descoberta do que somos, com a vossa ajuda, ficou sempre mais fácil percorrer o caminho...
As horas, minutos, segundos em que o nosso olhar se encontrou, palavras que não esqueces, que te aquecem o coração, que guardas para sempre... 
Momentos, tantos momentos, vertigem sem fim... 
Os que passam por ti por segundos, os que perdes no tempo que não se esgota e encontras ao fim de anos, os que estiveram sempre contigo e os que continuam a estar... Os que já não estão, mas que nunca se apagam da tua memória... Os novos que te enriquecem com a sua energia, os velhos que compartilham a sua sabedoria, todos os que te ensinam a caminhar e fazem de ti quem tu és... Obrigada do fundo do coração por nunca me deixarem só... Vocês são o meu chão, o meu ar, o meu amor, a minha vida... Obrigada Amigos por fazerem parte de mim...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Palavras com esperança...


Construo os meus castelos de areia, sem temer o amanhã incerto, para mim o hoje basta.
Abraço a incerteza com a convicção de que os meus castelos não se vão desmoronar...
Do meu universo das fragilidades, retiro o supérfluo, sei que não enriqueço a minha vida com ele, então de nada me serve... Continuo a caminhada para aceitar o que não entendo... Ao medo de cair, de perder, ao medo em geral, mando-o embora, ele não mora aqui, por isso, não o vou ouvir...
O que me resta? Tudo o que não se vê... A energia que me abraça sem que eu peça, a liberdade de ser eu a escolher o meu destino, o sol que me aquece sem cobrar, o silêncio, esse silêncio que me faz ouvir, que me faz crescer... 
Guardo comigo todos os que me acompanharam e por algum motivo partiram, deixaram-me a maior herança de todas, não a saudade imensa que corrói, mas o peito cheio de alegria quando os recordo, tão bom continuar a vê-los sorrir... Os abraços apertados, a cumplicidade, a amizade, o amor, os momentos, aqueles momentos que não contêm palavras...
As minhas construções na areia não terminaram, longe disso, vivem e crescem dentro de mim... Continuo a plantar sementes encantadas que espero que resultem em frutos mágicos, daqueles que ouvimos falar nos contos infantis... Rego-as com esperança na mudança, alimento-as, aguardo que cresçam, aprendo e mudo com elas, como uma criança, liberto nos meus castelos a possibilidade de se construírem sozinhos... 

terça-feira, 27 de março de 2012

Palavras com actores...

No teu palco a minha vida enriqueces...
Tens pressa e tens sede de encarnar...
Personagens fugazes e inesquecíveis 
confundem-se no que és.
Roupas vestidas e soltas do ser que encerras em ti...
Revelações de actos encomendados, desesperados, 
emotivos, despido de preconceito, até ao cair do pano.
Quem és tu por detrás da capa, dessa máscara 
que se cola e descola e se mistura...
Com adereços partilhados, que contam histórias, 
ou na nudez crua do corpo, nunca te intimidas...
Olhares cruzados, partilhas e vazio, és ponte 
desse mundo a que chamas teu...
Pessoas e locais, ruídos intemporais, 
imagens de corpos desenhados,
boneco de carne e osso e alma e vida.
Conta-me quem és, ou deixa-me adivinhar...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Palavras com cansaço...

Cansada de piegas, de filósofos, de desgoverno...
Cansada de acomodados, revoltados sem causa, de desunião...
Cansada de políticos, de escravos, de cordeiros e rebanhos...
Cansada de frases feitas e sem sentido...
Cansada dos que falam e nada fazem... Cansada dos que fazem na calada...
Cansada de manipuladores de opinião, de ignorância e de apatia...
Cansada de respeitar quem não se dá ao respeito... 
Cansada de gente doente, mesquinha, sem rumo nem opinião...
Cansada dos que se dizem sem partidos, contra tudo e contra todos, mas não apresentam solução...
Cansada do politicamente correcto, de tolerância e amor ao próximo, quando o próximo não vê para além de si...
Cansada de dados adquiridos, de regras, de inevitabilidades...
Cansada que vendam o meu país, cansada de ser subjugada a interesses que não são meus...
Cansada de ser roubada, de injustiças e de abusos de poder...
Cansada de ver em terra de cegos...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Palavras com poetas...

Poeta que te entregas quando te queres esconder 
e te escondes quando te queres entregar...
Sonhas e fazes sonhar, choras sem acreditar,
lutas para te encontrar...
As palavras são as armas que não pediste para usar...
Teus poemas, ironias, sentimentos, iguarias e outras sinfonias...
Caneta descontrolada, que nem te guia nem nada, 
mas que te obriga a escrever...
 Canta-nos as tuas palavras, sem medo, sem chão e sem ar, 
encanta-nos com o teu respirar... 
Poeta iluminado, destruído, louco, soldado, 
marido, amante e amado, indigente, letrado, 
reconhecido, anónimo, amado e odiado...
Partilha connosco o teu fado...
Ajuda-nos a viajar...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Palavras com Pai...


Semente insubstituível, que plantas em si...
Refugias-te no sol à espera que te ensinem o que 
deveria ser inato, mas não é.
Aprendes com os teus, com os nossos erros e dás, mais e mais...
Segues os passos, as palavras, ajudas a levantar, 
porque não consegues evitar o cair...
Sabes que não é fácil, mas não desistes de apoiar a tua cria...
Demonstras que és força, mas o teu olhar denuncia-te...
Aprendes a amar de dia para dia, aprendes a dar-te, 
como nunca te ensinaram a fazer...
Cresces comigo, meu pai, meu herói, meu amigo...

Para o meu Pai com Amor

sexta-feira, 16 de março de 2012

Palavras com rio...

Partilhavam confidências na beira do rio, as suas tardes eram tranquilas como o curso calmo das águas que os envolviam... Nos dias de calor mergulhavam nus naquele rio que conheciam tão bem, as tardes passadas ali eram tão agradáveis, faziam-nos esquecer as vidas cansativas e monótonas que tinham, o rio contava-lhes histórias que iam e vinham, ao sabor da corrente... Quase ninguém conhecia aquele sítio e eles mantinham-no em segredo, queriam continuar a ser os únicos exploradores daquelas margens onde se escondia um tesouro. Em crianças, tinham inventado uma história que contava que numa das margens do rio existia um tesouro escondido, enquanto cresciam, foram acreditando que a história, outrora inventada, afinal era real...
Naquele dia porém, não estavam sozinhos... Tinham acabado de se despir e mergulhar no rio, entre gargalhadas e conversas, os gritos e os ecos, a competição e as lutas, afinal voltavam a ser meninos a brincar, cada vez que mergulhavam no rio... Elas, chegaram sem que se apercebessem, observavam-nos da outra margem, não eram daquelas paragens, eram raparigas da cidade, notava-se pela forma descontraída das roupas, a rebeldia inerente, exploradoras também dos recantos da terra, raparigas destemidas, mas que não conseguiam disfarçar os risinhos nervosos de quem apanhou ou foi apanhado, desprevenido, fingiam fotografá-los nus, para os intimidar e riam da sua reacção envergonhada, eles nadavam para a margem com vigor, fugiam da câmara desligada, que não era mais que um adereço da brincadeira que elas tinham iniciado, mas eles não sabiam... Vestiram-se rapidamente e depois de se sentarem, acenaram-lhes e sorriram, elas responderam e foram embora a correr e a rir alegremente... 
Eles ficaram calados um tempo até as deixarem de ouvir, ficaram de novo com o silêncio sagrado e com as suas conversas lentas e bem dispostas. Mas hoje, tinham uma nova história para contar no café aos amigos, começavam por dizer que tinham conhecido umas moças da cidade, depois relatavam pormenores que não tinham acontecido mas que tornavam a história mais apelativa, como se tinham divertido juntos, como elas quase se tinham afogado no rio e eles heroicamente mergulharam para as salvar, depois acrescentavam mais alguns detalhes que haviam de compor a narrativa. 
A história, essa, seria falada e contada na terra, tantas vezes e durante tanto tempo, que se tornaria real, tal como o seu tesouro perdido... E assim deslizavam os dias, felizes e tranquilos rio abaixo...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Palavras com adeus...

Sentirias a minha falta se partisse?...
Ontem deixaste-me só, eu não vi que continuavas aí...
Na procura, fugi para me encontrar de novo...
Há muito que este corpo, vagueia sem mim...
Se me esquecesse no tempo, voltaria a encontrar-me?...
Os meus olhos estão vazios de mim...
A loucura, já não é minha, abandonou-me também...
Nem a alma já me pertence...
Retalhos de uma vida perdida, sou...
Angústia senil que teima em perseguir-me...
Desapeguei-me de mim...
Quero ir ao meu encontro...
Sentirias a minha falta se partisse?...

terça-feira, 13 de março de 2012

Palavras com fumo...

Fumo de um cachimbo que falava de paz...
construía-se um sopro de liberdade,
mas escondia-se na fumaça de não ser capaz...
Firmemente agarrava-o com vontade,
para não esquecer seus desejos de rapaz.

Homem se fez e continuou a fumar,
e no cigarro e no cachimbo e nessa ansiedade,
não perdeu a capacidade de conquistar,
o que lhe queriam negar sem lealdade...
Entre uma passa e outra, continuou a lutar...

Velho ficou, com sua rouquidão
de quem muito fumou, mas sem nunca esperar,
que naquele tempo de ilusão,
lhe tentavam roubar, o que o fez lutar...

Com seu cachimbo, sua companhia,
não deixou de acreditar na sua verdade...
Hoje cansado, mas com alegria,
pede que lutes de novo, pela Liberdade!


segunda-feira, 12 de março de 2012

Palavras com Luz...

Escondi-me na escuridão profunda, sem forças para me elevar... Achei que ia ficar por lá, não me permitia sair... Estava tão confortavelmente habituado ao escuro, que só de pensar em ver de novo a luz, me fazia arrepiar, essa luz não é para mim, pensava... Ao longe ouvia as tuas gargalhadas, como se desdenhasses da minha escolha... Gritavas por mim, incitavas-me a sair... 
Mas eu não queria, o negro daqueles muros eram o meu conforto, entre aquelas paredes erguidas por mim, sentia-me seguro, nada me podia atingir... Tinha construído uma teia bem firme, balançava-me nela, não conseguia sair, mas sentia-me bem...
A cada dia que passava, as tuas gargalhadas e gritos eram cada vez mais ensurdecedores, já não os conseguia calar, perguntava-me que mal te tinha feito, para gritares tanto por mim, rogava-te que me esquecesses e me deixasses sozinho... Mas tu não desistias, cada vez gritavas e rias mais alto, pedias-me para seguir essa luz que me ofuscava e que eu tanto temia... 
Já não aguento mais ouvir-te, resolvi libertar-me da teia e dos muros e do escuro, sigo ao teu encontro, oiço as gargalhadas e  a tua voz que chama por mim, já não me gritas. Sinto-me pleno e em paz, o medo abandonou-me... Começo a ver a luz... 


sexta-feira, 9 de março de 2012

Palavras com sono...

Deixa-me ficar aqui sossegado, porque estou cansado....
Estou cansado das tuas coisas, falas muito, não percebes que já não me apetece brincar?...
Desde quando decides tudo por mim? Se te pedi para parares... Pára de me atormentar com a tua vida complicada, não percebes que sou só uma criança?
Tenho sono, quero dormir... 
Não quero as tuas preocupações, nem frustrações, nem os teus medos... Só quero dormir, porque tenho muito sono... Ontem disseste que ias parar de me contar essas histórias que não me interessam para nada e me assustam, eu pedi-te para irmos jogar à bola, mas tu disseste que não tinhas tempo... Não tinhas tempo para mim... Pois hoje, sou eu que não quero ter tempo para ti... Deixa-me sonhar com os meus castelos e monstros sem cabeça, com heróis e fantoches, com grutas e carros velozes... Deixa-me sonhar que estou a correr lá fora, deixa-me gritar e correr, correr sem parar e por favor, não me digas que vou cair, não me faças desistir, como tu... 
Deixa-me dormir, deixa-me sonhar, deixa-me voar...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Palavras com Mulheres...

São a força que nos acolhe no seu leito sensível...
São o mar revolto que nos envolve num abraço...
São o nosso coração...
São Amor em estado puro...
São divas, são divinas e são mendigas...
São guerreiras de luz onde reina a escuridão...
São vento, são brisa, são ar...
São guerra, são luta e são paz...
São verdade, são mentira e são segredos...
São o ventre que nos dá colo...
São sabedoria, liberdade, são maiores...
São confiança, são o porto, são abrigo...
   São mães, são filhas e são órfãs...
São tudo e nunca nada, porque são vida...
São poema inacabado...

São Mulheres!

terça-feira, 6 de março de 2012

Palavras com acasos...

Encontraram-se um dia por acaso, depois, começaram a encontrar-se por acaso muitas vezes...
Os seus passos guiavam-nos sempre para aquele lugar comum...
O desejo e ânsia de partilharem aquele momento, começava a ser desconcertante... Nunca falaram um com o outro, ficavam a observar-se de longe no inicio, com o passar do tempo aproximavam-se cada vez mais, agora, um ano depois, sentavam-se sempre frente a frente, olhavam intensamente um para o outro, olhos nos olhos, sem proferirem uma única palavra, bebiam um café, saboreavam cada segundo daquele ritual, mantinham com uma religiosidade quase mórbida, o encontro, que de fortuito já nada tinha, mas que lhes alimentava os dias e as horas mais solitárias...
Ela, era sempre a primeira a ir embora, esboçava um sorriso tímido e corava, ele, sem nunca desviar o olhar, ficava mais uns minutos a vê-la desaparecer e depois, seguia também o seu caminho... Muitos eram os pensamentos nunca revelados, que os acompanhavam nos seus respectivos percursos... Tinham ambos uma única certeza... No dia seguinte, estariam juntos novamente e isso bastava-lhes... 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Palavras com imagens...


Exploradores do destino dos outros, que se iludem na imagem 
projectada em si...
Desafiam a tela pintada por eles, recriando a imagem de 
ontem e de hoje, num sentir fugaz de quem já voou 
muito alto, sem querer cair no abismo...


sexta-feira, 2 de março de 2012

Palavras com dor...

Somos apenas despojos de nós que sem querer nos separamos do ser... 

- Quem és tu? - Perguntei-lhe sem pensar...
- Eu, sou aquilo que vês e sentes... - Respondeu-me ela com um sorriso. Depois, mergulhou novamente no seu mundo inatingível, calada, suja e quieta, apenas balançando o seu corpo para um lado e para o outro, num movimento lento e contínuo...
Por muito tempo aquela imagem não me saiu da cabeça, ela era linda, jovem, inteligente e aparentemente normal... Quem ou o quê a fez chegar ali, que circunstâncias da vida a fizeram perder no caminho?... Quando mergulhou ela naquela apatia sem fim?... 
Pensava e não obtinha nenhuma resposta... 
Mais tarde comecei a reflectir sobre as suas palavras, "- Eu, sou aquilo que vês e sentes...", mas que via ou sentia eu, na realidade? Procurei mais profundamente, naquilo que senti a primeira vez que a vi e lembrei-me... Tu és eu, pensei... Tu e eu, somos iguais... O que me distingue de ti? Um episódio? Um momento? Porque foste parar ai e eu me mantenho à tona, sou melhor que tu? 
Não, definitivamente, não sou... 
Sabia que aquilo que nos separava era invisível e muito frágil, comecei a tentar entender e a não esperar uma resposta coerente, qualquer uma que me desse servia, adorava vê-la sorrir e ouvir as suas histórias sem sentido, nesses momentos, esquecia-me que ela ia voltar para aquele mundo onde só ela entrava, não me importava... Afinal, ela era eu, não a ia julgar... 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Palavras com areia...



 Passos nus que deslizam no silêncio, interrompendo por momentos 
a música das ondas, lá longe... 
Dizem-me que nasci livre, livre, para escrever na areia o caminho
incerto da minha história, oiço-os com atenção, naquele instante, 
livre sou... 
A história é feita de areia e ondas do mar, de corpos que dançam 
nas dunas despojados de pudor, de suor e de ventos incertos... 
A história não acabou, tal como a areia que nos escorre 
das mãos, também ela flui ao sabor da sua vontade, livre 
como eu, de se escrever sozinha...


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Bem vindos ao arranque oficial do Blog :)


Palavras com momentos...

          
          Pelos momentos que gostaríamos de perpetuar no tempo... 
         Parar o relógio naquele instante e simplesmente ficar... 
        Ficar naquele sentir, em que sonho e realidade se fundem, 
em que nada mais importa a não ser estar... 


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Palavras com escolhas...


A Vida é feita de escolhas... Por vezes escolhemos por nós, muitas vezes escolhemos pelos outros, outras deixamos que escolham por nós... Às vezes achamos que estamos a fazer as escolhas certas, outras vezes as erradas... Ainda temos aquelas, em que achámos que fizemos tudo, sem ver que esse tudo talvez não tenha sido assim tanto e que podíamos ter feito muito mais... Escolhemos dar tudo, dar pouco e escolhemos não dar nada... Mas também podemos escolher lutar pelas escolhas que mesmo parecendo as erradas, continuam a ser as certas para nós... O que não devemos é achar que as nossas escolhas são também as dos outros... Peace*