domingo, 21 de fevereiro de 2021

Palavras com amores...

Dos amores que a abandonaram sem aviso, não sobrou nada, não se agarraram à pele, nem pediram para ficar, foram apenas passagem, paisagem vazia, fria, não deixaram nada, mas levaram tudo o que ao amor cabe dar.
Ela não chora por eles, liberta-os da culpa e do fardo de amar. 

Dos outros que se desfizeram pelo tempo, ou por incompatibilidades várias, ou apenas porque eram grandes demais para permanecer, sobrou, a amizade presente, a distante, a ausente, continuam a caminhar nas paisagens várias e ficaram para sempre, guardados nas pegadas da alma dela.

Do Amor que a espera no fundo da praia não sabe ainda se vem para ficar, nunca sabe, apenas segue com a espuma do mar, os desígnios da vida e do coração. 

Dela dizem que tem um coração grande, onde cabem todos os amores, mas ela lembra-se bem de quando ele era frágil, de quando foi quebrado e de quando se fez forte e pede-lhe apenas que se lembre de ser doce, de bater pelos outros, de não desistir do amor.
Ele responde-lhe sempre: 
- Sabes que sou incapaz de desistir, mesmo quando finjo tão bem.

Assim, seguem os dois, amando o desconhecido e todos os amores por começar. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Palavras com tempo...

Recantos perdidos no tempo dos que achavam que não tinham tempo a perder.

Do tempo que se perdeu dele próprio na procura do tempo perdido...

Escondido daqueles que se intitulavam os donos do tempo, desprezando os nadas da existência. ~

Esses que tinham o tempo todo e mesmo assim não faziam nada com ele... 

Contrastavam com os que queriam parar o tempo para sem tempo, fazerem o que lhes desse na gana. 

Depois haviam os outros, senhores do tempo todo e do tempo dos outros. 

Não conviviam de perto com os que não tinham tempo nenhum porque eram eles que lhes levavam o tempo todo. 

Consolavam-se com o tempo que se esgotava a quem disso, já não fizesse caso. 

E lá seguiam, os tolos, a acreditar que tinham tempo...
 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Palavras com braços...

Os dias quentes a escaparem-se de nós.

Nós que recusamos obstinadamente a despedirmo-nos deles.

Deles que se fazem rogados, mas convencidos que voltarão em breve para nos abraçar.

Aqueles que entretanto se esquecem do calor desse abraço que escasseia e se fez tímido.

Voltamos juntos aos dias quentes e aos abraços calorosos, aos abraços de fogo que nos despem de frio e de mantas e máscaras pestilentas e bafiosas que se querem impor à força de medos e fraquezas.

Abrimos os braços, gritando que não passarão e os abraços soltam-se na força de uma rebelião curiosa que já não conseguimos deter.

Morremos abraçados de amor e de sonhos que se materializam agora, longe dos nossos olhos, mas concretizados na pele e no coração.

Livres somos e seremos enquanto esperamos os dias quentes e nos outros todos também.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Palavras com Pedras...

Enfrento-me no encontro dos recantos da cidade que já me foi casa e quando caminho naquelas pedras, às vezes, mas só às vezes, ainda é...
Dela, contam-se as histórias que não vos pertencem e que nenhum guia turístico será capaz de vos contar.
Convenço-me que vocês também não queriam saber.  Acho que nem nós, já queremos saber.
Estamos diluídos nas pedras, espalmados contra as paredes, fundidos com os bancos do jardim e a vista do miradouro.
Revolto os cantos da casa que já me fez sua, à procura não sei bem de quê... Talvez da pureza dos dias, agitados apenas, pela presença, dos que o são.
Ainda encontro alguns, os filhos das pedras, de coração duro, prestes a desmoronar.
Cientes de coisa nenhuma, continuamos, à espera que a cidade volte a ser casa e as pedras, apenas pedras.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Fotos com palavras... "Mais Amor"


Palavras com Ditados...

Consumo-me no caldo entornado. 
Esgoto-me de vai-se andando devagarinho, de marcar passo sem sair do lugar. 
E se amanhã não chover vai estar um lindo dia de sol... 
Farto-me com os assim assim e há tempo para tudo. 
Não há! Não há tempo para nada que ele é escorregadio e quem escorrega também cai. 
Já não ouço as vozes de burro e nunca chegarão ao céu. 
Não passarão pelo gato escondido com algo de fora que já não usava as botas que o fizeram senhor, trocara-as pelas outras que lambia. 
Lambia agora as feridas, deixadas pelas palavras que o vento não levou e não esqueceu. 
Depois apareceu o outro que quando nasce é para todos, mas é menos dos que vão pela sombra e mais dos que gostam de se queimar. 
Ainda me surpreendo com o há males que vêm por bem, sem entender que mal é esse que me quer bem. 
Bem me quer ou mal me quer, recolhe as folhas que te pretendem arrancar. 
Arranco à papo seco para ir buscar o pão que o diabo amassou, onde o dito também perdeu as botas que roubou ao gato. 
Penso que nem tudo o que vem à rede é peixe e que para o apanhar, às vezes temos de molhar o cú. 
Corro em direção da própria imavera que não acaba por morrer a andorinha, mas que tudo quer e tudo perdeu. 
Animo-me com o sonho que comanda a vida e com aquele que desperto, a guia sozinho, ajusta as velas e encontra o caminho do vento favorável. 
Mas mais vale ser do que parecer e nenhum pássaro na mão e todos a voar.

Fotos com palavras... "Quem Somos? Nenhuma justiça é humana."